Não é mistério que um bom descanso é fundamental para a saúde e o bem-estar em todas as idades, em especial, na infância. Basta recordar que esse período é marcado por um desenvolvimento (físico, motor, intelectual e emocional) constante e intenso. Justamente por essa razão, muitos pais se perguntam como lidar com distúrbios do sono infantil.
O que deve ser feito, como identificar o problema, a quem recorrer etc. Afinal, são muitas as situações que podem ser vivenciadas no cotidiano. Por exemplo, crianças com insônia, tendo pesadelos, dificuldade para dormir aos dois anos ou mais, sono agitado aos três anos ou mais, e por aí vai.
Com tudo isso em mente, trouxemos este post, que aborda os distúrbios do sono infantil de forma prática e didática para ajudar você a trazer mais qualidade de vida para os pequenos. Continue lendo e saiba mais!
Quais os principais distúrbios do sono infantil existentes?
Para falarmos sobre os principais distúrbios do sono infantil, vamos usar como base o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Isso porque ele tem uma sessão exclusiva, na qual aborda os problemas de sono e vigília em diferentes faixas etárias.
Além disso, é um material de referência internacional para o trabalho de diagnóstico, tratamento e intervenção feito por psiquiatras e psicólogos em clínicas, consultórios e hospitais. Esclarecido esse ponto, vamos aos distúrbios?
Entendendo sobre o funcionamento do sono
Para falar de sono, é preciso compreender que ele é dividido em dois tipos: o REM e o não REM. Isso acontece porque, embora descansemos por oito horas ou, até mesmo, mais tempo por dia, só vamos ter uma reparação e renovação física e mental em uma pequena fase dele, chamada de sono REM (que dura, no máximo, 90 minutos).
No resto do período, estamos apenas em um sono leve ou profundo, no qual o organismo desacelera o funcionamento. Essa fase, que pode durar horas, é chamada de sono não REM.
Conhecendo os transtornos que afetam o sono
A seguir, você vai aprender um pouco mais sobre transtorno de insônia, narcolepsia, transtorno do pesadelo e os transtornos de despertar do sono não REM.
Transtorno de insônia
O primeiro da nossa lista não poderia ser diferente: é o transtorno de insônia. Isso porque, além de ser bastante conhecido, é algo presente no cotidiano de muitas famílias.
Basicamente, a insônia é marcada pela dificuldade de adormecer ao se deitar ou de voltar a dormir após acordar (para beber água ou ir ao banheiro, por exemplo). Algo que pode levar a criança a ficar desperta madrugada adentro e desregular completamente o relógio biológico dela.
Afinal, se o seu filho deixar de descansar no horário adequado, passa o dia sonolento e sem energia para nada e, à noite, estará mais ativo e agitado. Logo, isso vira um ciclo sem fim, e o desempenho escolar dele é diretamente prejudicado.
Transtornos de despertar do sono não REM
Os transtornos de despertar do sono não REM envolvem dois tipos de episódios que acontecem sempre no sono não reparador. O primeiro deles é o sonambulismo, no qual a criança pode manifestar diversos comportamentos, como se levantar da cama, andar pelo quarto e perambular pela casa.
Em casos mais severos, ela pode chegar até a realizar atividades do dia a dia, como separar livros para a escola, entreter-se com brinquedos ou fazer pequenas refeições. Tudo isso ocorre sem que a criança tenha consciência do que está acontecendo.
Já o segundo é chamado de terror noturno. Basicamente, os pequenos se deitam para dormir, mas em algum momento da noite, acordam abruptamente e em desespero.
É muito comum, principalmente, quando se trata de crianças, que elas chorem, gritem e fiquem agitadas. Além disso, devido ao medo da situação, o organismo responde com a produção de hormônios e neurotransmissores, como o cortisol e a noradrenalina, que as deixam estressadas e em forte episódio de ansiedade.
Como resultado, elas apresentam dificuldade para dormir e até rejeitam a ideia, pelo medo de passar novamente pela experiência, mesmo que sequer tenham alguma recordação do que sonharam.
Transtorno do pesadelo
O transtorno do pesadelo, muitas vezes, é confundido com o terror noturno. No entanto, são coisas diferentes. Como esse último foi explicado há pouco, vamos nos concentrar nas diferenças do primeiro, ok?
O transtorno do pesadelo acontece, especificamente, na fase do sono REM, pois esse momento é o que temos sonhos mais elaborados. Ele consiste em situações em que o seu filho passa, de maneira muito vívida e intensa, por ameaças ou riscos fantasiosos.
Por exemplo, desastres naturais ou perseguições de monstros. Há casos que em que esses pesadelos se tornam extremamente frequentes e, o pior: até mesmo, repetitivos. Devido a tudo isso, o pequeno acaba acordando e se lembrando da experiência que teve.
Um dado importante que o DSM-5 traz é que as crianças começam a ter pesadelos na segunda infância (que vai dos três aos seis anos). Até 3,9% dos pais afirmam que os filhos sofrem com pesadelos recorrentes.
Narcolepsia
A narcolepsia é um transtorno que também é identificado na infância. Ele ocorre da seguinte forma: em vez de a criança descansar no período noturno e estar disposta nos períodos diurno e vespertino, ela sente sono ao longo de todo o dia.
Muitos pequenos até conseguem descansar à noite, principalmente, no início da narcolepsia, mas mesmo assim, isso não é o suficiente. Eles passam a ter diversos ataques de sono intenso que os deixam incapazes de ser produtivos e ter uma vida ativa.
Em determinados casos, esse ataques são tão fortes que eles acabam dormindo, independentemente de onde estão — inclusive, na sala de aula. Um fato marcante é que por mais que eles tirem vários cochilos, ou até se deitem para dormir, de fato, o sono nunca é reparador, não ultrapassando 15 minutos de fase REM.
Outras condições que afetam o sono infantil
Além das questões que mencionamos até aqui, é importante saber o seguinte: há outros problemas de saúde que afetam a capacidade das crianças de dormir bem e alcançar um sono reparador. Geralmente, elas têm como características centrais as disfunções no humor, no bem-estar psicológico e na cognição.
É o caso da depressão, do transtorno da ansiedade generalizada (TAG), do transtorno de ansiedade por separação e da síndrome do pânico. Para completar, questões pessoais e sociais também podem provocar a desregulação da qualidade do sono por abalar o emocional dos pequenos. É o caso do bullying e de brigas domésticas entre os pais ou responsáveis pelas crianças.
Como eles podem ser identificados?
O primeiro passo para poder identificar e ter como tratar distúrbios do sono infantil é checar a adequação do espaço no qual a criança dorme. Ou seja, se é um local de temperatura agradável, confortável, espaçoso e sem interferências externas (como barulhos e cheiros incômodos).
É preciso ter em mente que por mais simples que sejam essas questões, elas podem interferir no descanso de todo mundo. Não havendo problemas quanto a isso, os pais devem passar para a próxima etapa: a avaliação de questões pessoais e sociais.
Nesse ponto, é fundamental avaliar o clima no lar e a relação da criança com os moradores da residência. Em paralelo, é preciso manter o contato com a instituição de ensino em que ela estuda para ter feedbacks contínuos, não apenas sobre a aprendizagem infantil, mas também, a respeito de como anda o filho na rotina escolar.
Saber se ele se adaptou bem à turma, aos professores e, inclusive, ao conteúdo do ano letivo. Caso seja necessário, os pais devem recorrer à terceira etapa. Ela consiste na procura de profissionais da saúde para encontrar causas orgânicas (como doenças e infecções) e/ou psicológicas por trás do distúrbio.
Além do atendimento clínico, os médicos costumam solicitar a realização de exames específicos para monitorar e analisar a qualidade do sono — como é o caso da polissonografia. Já os psicólogos, por sua vez, fazem avaliações com testes psicológicos e de inteligência emocional em crianças que indicam a presença de transtornos mentais.
Como os pais devem tratar e agir nessas situações?
Caso seja identificado um distúrbio do sono infantil, é preciso seguir as orientações do profissional de saúde. Afinal, há diferentes tratamentos que podem ser adotados, se não para sanar o problema, ao menos, para mantê-lo sob controle.
Além disso, é importante investir nos cuidados com a saúde mental do seu filho. Psicoterapia, prática de esporte na escola e atividades artísticas ajudam bastante nessa tarefa, pois permitem que ele se expresse melhor, gaste energia e não retenha emoções negativas que tragam prejuízo para o bem-estar dele.
Quais são os pilares para um sono infantil saudável?
Há dois pilares importantes para um sono infantil saudável. O primeiro deles é a ausência de interrupções. Afinal de contas, se a criança é acordada uma ou mais vezes ao descansar, o ciclo de sono dela é afetado, e dificilmente ela conseguirá chegar ao estágio REM.
O segundo é que ela não consuma materiais audiovisuais (livros, séries de TV, filmes, jogos etc.) que tragam cenas de violência, terror ou fantasia distópica, por mais sutis que sejam, antes de se deitar.
O motivo é que elas podem ficar impressionadas com o que veem, leem e/ou escutam. Logo, isso acaba influenciando os sonhos (ou pesadelos) que terão, levando-as a ficarem agitadas, com dificuldade para dormir e acordando no meio da noite por estar assustadas.
Como melhorar o sono da criança?
A seguir, trouxemos algumas dicas para melhorar o sono das crianças e reduzir a agitação noturna infantil, contribuindo, assim, para o bem-estar delas e para um descanso de mais qualidade. Além disso, essas sugestões são importantes para diminuir a probabilidade de elas desenvolverem distúrbios do sono infantil ou, caso já os tenham, conseguir mantê-los sob controle. Portanto, tome nota!
Evitar telas antes de dormir
O uso de telas na infância deve ser evitado na hora de dormir. Afinal, o cérebro entende essa exposição a elas como um sinal de que deve se manter em plena atividade. Como resultado, a criança acaba muito ativa em um período em que deveria estar dormindo.
Alimentar-se bem
A alimentação é essencial para manter o corpo e a mente equilibrados e saudáveis. Portanto, pratique o mindful eating e evite refeições pesadas antes de dormir, pois isso pode dificultar o sono para a garotada.
Dormir no escuro
Uma terceira dica é dormir no escuro, já que isso influencia o relógio biológico das pessoas e induz ao sono. Porém, caso a criança se sinta desconfortável de deixar o quarto sem iluminação, você pode acender um abajur em um canto distante da cama. O importante é que ele fique fora do campo visual do pequeno.
Manter uma rotina
Adote uma rotina fixa para a criança se deitar e acordar. Isso vai ser útil para habituá-la física e mentalmente a descansar no mesmo período, e o principal: para que ela durma o tempo adequado para a idade dela.
Qual é a quantidade de sono ideal para cada faixa etária?
É possível estabelecer algumas médias conforme a faixa etária. Por exemplo, na primeira infância (que vai até os dois anos), é comum que haja uma rotina de sono mais intensa, chegando até a 14 horas por dia. É uma quantidade bem próxima daquela do bebê.
Na segunda infância (entre os três e os seis anos), essa média cai para cerca de 11 a 12 horas, já que há a introdução da vida escolar na rotina dos pequenos. Já na terceira infância (que vai dos seis aos 12 anos), 10 horas de sono serão suficientes.
Por fim, uma vez na adolescência (que vai dos 12 aos 18 anos), o seu filho dormirá entre oito a 10 horas por dia. Essa redução, comparada às fases anteriores, é normal e até esperada, pois além do colégio, há o florescer da vida social. Para encerrar, os adultos devem dormir uma média de oito horas diárias.
Como você leu, os distúrbios do sono infantil podem ter diferentes causas: físicas, emocionais e psicológicas. Por isso, é importante identificar o que se passa com a criança, manter um diálogo constante com a escola e não abrir mão de procurar ajuda de profissionais da saúde, quando necessário.
A partir dessas medidas, você pode chegar à raiz do problema, e o principal: adotar o tratamento necessário e adequado para o seu filho, garantindo que ele volte a dormir com qualidade. A partir daí, o desempenho escolar dele voltará a ser positivo e a saúde o e desenvolvimento dele não serão mais afetados.
Gostou do post? Já que trouxemos o assunto da tecnologia na educação infantil ao longo do texto, aproveite para saber mais sobre como utilizar esse recurso de forma saudável e equilibrada com os seus filhos!