A educação humanizada está centrada em pessoas. Embora essa afirmação pareça óbvia, nem sempre a pedagogia manteve seu foco nos alunos, nas suas necessidades e no contexto histórico no qual eles foram criados. Paulo Freire foi o pioneiro dessa ideia.
O educador e filósofo acreditava que a realidade social dos alunos poderia ser mudada por meio do diálogo, liberando-os da natureza opressora da sociedade. Para isso, deve fugir de padronizações.
Assim, os planos de ensino baseados na educação humanizada devem medir a capacidade dos alunos de julgar, analisar, inferir, interpretar, raciocinar e pensar, sem jamais subestimar essas habilidades.
Preparamos um guia completo com informações relevantes sobre esse modelo educacional. Nosso objetivo é que você reconheça os benefícios da educação humanizada para o desenvolvimento das crianças e adolescentes em idade escolar, os impactos futuros e como reconhecer uma escola humanizada — um espaço em que os alunos se sentem valorizados, conhecidos, respeitados e seguros.
Continue a leitura e veja a educação dos seus filhos e filhas com mais tranquilidade.
O que é educação humanizada?
Em linhas gerais, a educação humanizada é voltada para compreender a individualidade dos alunos e a sua adaptação ao grupo com o qual convivem. Esses princípios possibilitam a melhora da criatividade e o desenvolvimento de habilidades que ultrapassam os limites escolares.
Entre elas, a capacidade de se apresentar em público, de praticar esportes, de se manifestar artisticamente por meio da música, da dança ou do teatro, e mais importante: externar os seus sentimentos e frustrações.
Como surgiu a educação humanizada
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, tivemos um sistema educacional catequizador para os índios. Para os filhos dos colonos portugueses, houve o ensino mais aprofundado, com ênfase ao conteúdo direcionado às letras.
Conforme registros históricos, a educação era destinada ao segundo filho, que era enviado ao colégio e, posteriormente, concluiria seus estudos na Europa. Nessa época, a educação era voltada somente para os homens e, caso houvesse uma filha, ela seria educada aos serviços domésticos.
Esse formato educacional causava o distanciamento familiar, refletindo-se nas relações afetivas quando os filhos retornavam para suas casas. Novas escolas surgiram com o desenvolvimento da sociedade.
A evolução no sistema de ensino aconteceu em paralelo com as mudanças nas relações entre crianças e adultos. Isso possibilitou que as aulas fossem ministradas durante o dia.
As melhorias no sistema educacional também se refletiram na formação dos professores, cujo investimento em capacitação foi se intensificando. Entretanto, o foco ainda estava na formação acadêmica, e continuava gerando o distanciamento entre escola e famílias.
Os colégios de qualidade, então, começaram a se preocupar com as interações entre instituição, alunos, pais e professores. Foi nesse contexto que surgiu a educação humanizada, cujos valores de toda equipe docente devem estar alinhados com os das famílias.
Nessas relações, é importante que a criança reconheça que pode contar com o professor e com amigos de sala para tirar dúvidas, pedir ajuda, e que não tenha vergonha de errar. Dessa forma, poderá se reconhecer como parte do grupo e se sentir mais confiante.
Uma vez que a escola saiba reconhecer as dificuldades da criança e todos trabalhem em conjunto para ultrapassar os obstáculos que vão surgindo, sem que pressionem a criança na busca por resultados, a sua formação acontece baseada no respeito à sua individualidade.
Qual é sua importância?
A importância da educação humanizada se conecta com a globalização. Vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, em que as coisas mudam muito rapidamente e tudo está ao alcance de nossas mãos. As crianças e os adolescentes de hoje nasceram e cresceram assim — mais um fato que exige das escolas repensar o ensino tradicional.
Manter um ensino estático e, por muitas vezes, opressor para esses humanos em desenvolvimento, altamente informatizados e envolvidos com a tecnologia, é sinônimo de estar na contramão do mundo. Junto da família, a escola é dona de um papel de muita responsabilidade: auxiliar na construção intelectual, psicológica e física dos seus alunos.
Portanto, o ensino tradicional deixou de ser o único e melhor caminho para formar cidadãos aptos a viver nesse novo contexto de sociedade, e abriu espaço para a educação humanizada.
Individualizar a educação e tratar cada estudante como um ser humano único, dono da sua própria personalidade e particular, é permitir que ele cresça sendo respeitado, com autoestima e autoconfiança. Tudo o que é aprendido nessa fase é replicado para o resto de sua vida. Se é tratado com afeto, vai lidar com o próximo dessa forma.
Como impacta a vida e a formação das crianças?
Para que você entenda a importância de investir em uma escola cujo Projeto Político Pedagógico (PPP) seja pautado na educação humanizada, reunimos os principais impactos desse modelo educacional na vida de uma criança. Além disso, você vai encontrar alguns exemplos de ações que podem ser realizadas pelas instituições para realmente afetar as crianças de forma positiva. Vamos lá!
Desenvolve competências
Até alguns anos atrás, a educação humanizada não era discutida. Contudo, como já falamos, essa tem sido uma preocupação das escolas nos dias de hoje. As instituições têm buscado acolher os alunos, em paralelo ao desejo dos pais de proporcionar o melhor desenvolvimento para seus filhos.
As instituições de ensino que adotam o sistema da educação humanizada prezam pelo avanço das aptidões socioemocionais dos alunos. Veja, abaixo, quais habilidades são essas e quais são seus benefícios no desenvolvimento de crianças e jovens.
Altruísmo
Pessoas altruístas se preocupam com o desenvolvimento de atividades que beneficiam outras pessoas e a sociedade. É possível desenvolver essa habilidade a partir de atividades que apresentam a realidade social, ambiental e econômica do país e do mundo, trazendo a reflexão sobre como os problemas apontados poderão ser resolvidos.
Por exemplo, o professor de Geografia apresenta as mudanças climáticas e as possíveis alternativas para frear esses males, como:
- incentivar a reciclagem, ensinando como funcionam os processos, os materiais que são recicláveis e as alternativas ecológicas para matérias-primas que não podem ser recicladas;
- promover projetos multidisciplinares com professores de Biologia e com a prefeitura da cidade e, até mesmo, empresas de pais de alunos para promover um programa de plantio de árvores;
- reforçar continuamente a importância de economizar água e energia elétrica.
Empatia
A base da empatia é formada por três componentes:
- afetivos;
- cognitivos;
- reguladores de emoções.
O componente afetivo envolve a compreensão do estado emocional do outro e a partilha. O componente cognitivo trata da capacidade de compreender o estado mental do outro. Já os reguladores emocionais se formam a partir da capacidade de lidar com as respostas empáticas.
Ao optar por uma escola humanizada, com projetos voltados para o desenvolvimento da empatia, a criança e o adolescente passam a compreender e respeitar o próximo. Dessa forma, evitam conflitos desnecessários, graças à capacidade de se pôr no lugar do outro nas condições em que ele se encontra.
Isso também contribui para trabalhar o pensamento crítico, ao mesmo tempo em que a pessoa se torna mais compreensiva, entendendo e aceitando as diferenças, emitindo opiniões e fazendo escolhas que possam contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
Persistência
Errar é algo que faz parte da natureza humana, e as crianças devem ser ensinadas desde cedo que falhas são oportunidades de aprendizado. A educação humanizada faz justamente isso: mostra que esse é um processo natural e que a verdadeira importância está em não se entregar ao erro, mas sim, persistir em busca do que é certo e aprender com as dificuldades.
Autoconfiança
Na vida adulta, a autoconfiança é uma competência essencial para aumentar as chances de obter sucesso em qualquer empreitada, pois a pessoa tem certeza sobre suas qualidades e sabe reconhecer as suas falhas.
Escolas humanizadas oferecem um ambiente em que os alunos são incentivados a compartilhar suas ideias e contribuir com a visão do próximo. Assim, crescem cientes do que são capazes, e aprendem a reconhecer quando precisam de ajuda para melhorar os projetos.
O trabalho do docente é direcionar as turmas, mostrando que os estudantes são capazes e devem se arriscar. Dessa forma, aprendem a acreditar em si, aproveitando melhor suas qualidades e adquirindo ferramentas para trabalhar seus pontos fracos. Tudo isso será extremamente valoroso quando forem adultos.
Colaboração
Para trabalhar as relações interpessoais, a escola humanizada valoriza e incentiva o trabalho em equipe. Na prática, entender como unir forças faz a diferença em qualquer projeto, e isso estimula a colaboração.
É na escola que os alunos vão aprender a dividir o trabalho e assumir responsabilidades. Além de valorizar o próprio potencial, também passam a reconhecer as qualidades dos colegas, defendem as suas ideias, delegam funções, recebem orientações, ouvem o outro e entendem o quão importante é oferecer e aceitar ajuda.
Autonomia
Altruísmo, empatia, persistência, autoconfiança e colaboração são caminhos que levam à autonomia. Como o aluno é constantemente estimulado a pensar, se expressar e ajudar o próximo, e aprende que é capaz de realizar o que quiser — com ajuda ou não —, ele acaba se tornando um ser humano mais autônomo.
Criar filhos independentes é de extrema importância para o futuro, pois se reflete no desenvolvimento da carreira profissional e estimula o empreendedorismo.
Contribui com a vida social
Um dos benefícios relacionados ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais descritas no tópico anterior é sentido na vida social dos alunos das escolas que praticam a educação humanizada. Com impactos que vão além do ambiente escolar, a criança tende a desenvolver relações mais saudáveis, baseadas no diálogo e no respeito com o próximo.
Seja no trabalho, seja com amigos, seja na vida pessoal, a educação humanizada cumpre a função social da escola na formação do aluno como cidadão autônomo, consciente e emocionalmente responsável. Isso é de extrema importância na construção de uma sociedade tolerante, justa e inclusiva.
Serve de motivação para os estudos
Até este momento, você já deve ter notado que a educação humanizada nas escolas tem um peso importante no desenvolvimento pessoal do aluno, preparando essa criança para a vida e concedendo uma base sólida para que enfrente os desafios do futuro. Mas não podemos nos esquecer da sua formação acadêmica.
Nem sempre, a dificuldade no aprendizado se restringe à sala de aula. Por isso, a equipe pedagógica das escolas humanizadas é extremamente importante. Além da qualificação básica necessária para lecionar, esses profissionais são capacitados para identificar barreiras que vão além dos muros escolares.
Ponto positivo para pais interessados em buscar soluções e proporcionar uma formação mais respeitosa para os filhos. Escolas humanizadas não enxergam notas baixas como fraquezas ou falta de inteligência, mas como uma oportunidade de aprender.
Esse ambiente saudável proporciona relações igualmente sadias entre colegas, colaboradores, docentes e alunos. Como resultado, a criança e o adolescente gostam de ir para aula. A motivação para estudar é essencial para que sejam participativos em sala de aula e façam a sua parte estudando em casa.
Como fazer sua parte enquanto família?
Não basta matricular os filhos em escolas que praticam a educação humanizada. É preciso participar da educação das crianças e dos adolescentes, acompanhar as atividades realizadas pela instituição e reafirmar os comportamentos positivos aprendidos.
Ser pai, familiar e responsável por adultos em formação significa continuar estudando e compartilhando o conhecimento. Exatamente o que você está fazendo neste artigo: lendo mais sobre processos de educação humanizados.
Lembre-se de que todo aprendizado deve ser completo. A construção do pensamento não depende só da escola ou só da família. Todos aqueles que fazem parte da rotina de uma criança precisam estar conectados a um mesmo propósito, falar a mesma linguagem e seguir os mesmos princípios.
Todos os ambientes devem ser saudáveis, afetuosos e positivos. O respeito, o apoio e o incentivo devem estar em todos os lugares. Se para você for complicado, não hesite em pedir uma ajuda à equipe pedagógica. Eles são profissionais, e também são capacitados para orientar adultos.
Como avaliar a educação da escola nesse sentido?
Com base em tudo o que vimos até agora, certamente, vai ficar mais fácil identificar as escolas que realmente aplicam a educação humanizada. Uma vez que o impacto vai além do ambiente escolar, pais e familiares experimentam esses benefícios no dia a dia e na relação com a criança.
Por exemplo, estudantes que recebem educação humanizada compreendem melhor os próprios sentimentos e passam a valorizar os laços afetivos. A tendência é que aconteça um movimento de aproximação junto à família, fortalecendo o relacionamento.
Por um lado, você vai perceber seu filho mais confiante. Por outro, vai notar uma tendência para argumentação e defesa dos seus ideais. Como explicamos, procure não podar essas reações. Lembre-se de que ele está sendo preparado para a vida adulta, fase em que será importante se impor.
As escolas humanizadas incentivam as famílias a participar desse processo. Estão sempre abertas ao diálogo, e o calendário contempla uma série de atividades inclusivas e envolventes.
Isso é muito importante não só para que os pais fiquem próximos da instituição, mas também, para que o suporte, o acolhimento e o afeto aconteçam em todos os cenários ocupados pela criança e adolescente. Só assim podem se envolver de forma integral.
Quais são os resultados?
Um artigo publicado no portal Dia a Dia Educação, da Secretaria de Estado do Paraná, promove uma reflexão sobre a qualidade do ambiente escolar que tem a afetividade como uma das bases do processo ensino-aprendizagem.
Baseada em uma revisão bibliográfica dos mais importantes teóricos da educação, a pesquisa mostra que “a afetividade se manifesta através de comportamentos posturais e verbais, e vai ganhando complexidade à medida que o indivíduo vai se desenvolvendo”.
Isso significa que, quando a criança — aqui, tratada como um indivíduo em formação —, os professores e a família vivem em um ambiente que facilita e incentiva o diálogo, a confiança, a valorização de suas ideias e a partilha, esse indivíduo cresce com autoestima, e o sucesso da aprendizagem será completo.
De acordo com a pesquisa, um estudante até pode fixar o conteúdo, quando tratado de forma brusca e sem criar laços afetivos. No entanto, essa aprendizagem não será significativa, e ele não terá o preparo adequado para a vida futura.
Para formar um cidadão, é preciso considerar fatores biológicos, emocionais, afetivos e sociais. Perceba que essas foram questões tratadas ao longo deste artigo como foco da educação humanizada.
O estudo é finalizado chamando a atenção para a importância de a escola desenvolver suas metodologias pedagógicas nesse contexto, estabelecendo conexões afetivas com os alunos e respeitando sua história, realidade e características pessoais. Outra pesquisa, publicada na revista Gestão Universitária, nos lembra das diferenças entre os humanos e as máquinas:
- sentir e expressar emoções;
- mudar o mundo;
- estabelecer laços afetivos.
Tais características revelam a necessidade de a escola ser um ambiente acolhedor e humano, apontando a afetividade e as relações no ambiente escolar como questões essenciais para o desenvolvimento dos alunos. Mais uma vez, notamos o quão importante é para escolas, famílias e professores se manterem atualizados a respeito de práticas de humanização.
Como isso impacta a sociedade?
Ao longo deste post, falamos algumas vezes sobre o papel da educação humanizada na formação do indivíduo, destacando os impactos de uma criação afetuosa no desenvolvimento do aluno, e como isso se reflete externamente, ou seja, nas suas relações fora do muro da escola durante a infância e ao longo da vida.
Essa forma de viver tem impacto na sociedade de diversas maneiras. A criação humanizada forma cidadãos mais justos, autoconfiantes e empáticos — características que explicamos anteriormente.
Conviver em sociedade com pessoas mais humanas, compreensivas, tolerantes e confiantes é essencial e se reflete no coletivo. O que é afetuoso contagia. Bons exemplos são seguidos e, dia após dia, vai se formando um grupo mais igualitário, empático e respeitoso, um reflexo fiel da educação humanizada.
Quais são as ações pontuais que demonstram a educação humanizada?
A educação humanizada é construída com base na tríade:
- professores capacitados;
- interdisciplinaridade;
- metodologias de ensino combinadas.
Veja como elas devem funcionar no contexto escolar humanizado.
1. Professores capacitados
Uma instituição humanizada se preocupa com as tendências da educação. Logo, cursos e capacitações fazem parte da rotina de professores, coordenadores e toda a equipe pedagógica. É importante que sejam oferecidos pela escola, e não seja apenas uma iniciativa em particular de cada profissional.
2. Interdisciplinaridade
O conceito de interdisciplinaridade, resumidamente falando, trata de unir várias disciplinas em uma só atividade. Ou, ainda, interligá-las de alguma forma — como no exemplo dado neste mesmo post, no tópico em que falamos sobre o altruísmo, lembra-se?
Responsáveis por alunos matriculados em escolas humanizadas podem esperar muitos projetos, passeios, eventos, feiras e apresentações interdisciplinares.
3. Metodologias de ensino combinadas
Por fim, se o conceito de humanização envolve tratar o aluno como indivíduo e respeitar suas características únicas e pessoais, logo, não é errado presumir que essas crianças e adolescentes têm diferentes ritmos de aprendizado.
Sendo assim, é importante que adotem diferentes métodos de ensino combinados entre si, para que o aprendizado e o conhecimento sejam acessíveis a todos os estudantes. O lúdico, a gamificação e a tecnologia são figuras presentes nesse contexto.
Chegamos ao final do nosso guia sobre educação humanizada! Esperamos que as informações trazidas ao longo deste material sejam úteis não só para escolher uma escola que realmente siga os princípios desse modelo educacional, mas para medir a qualidade do ensino como um todo.
Toda família quer o melhor para suas crianças e adolescentes, e a escolha de uma instituição de ensino faz parte desse contexto. Entretanto, muitas vezes, o foco está no percentual de aprovação do vestibular, nas atividades extracurriculares oferecidas e na velocidade do aprendizado.
Esses são pontos importantes, mas as abordagens baseadas na humanização são tão relevantes quanto passar na faculdade desejada. Quando a criança cresce sob a ótica da individualidade, do respeito e com laços afetivos, o sucesso na vida adulta é quase garantido.
Portanto, se você está enfrentando a dura missão de educar um ser humano em formação, e busca uma instituição de ensino que prepare essa criança para o futuro, esteja certo de que o melhor caminho é investir na educação humanizada. Você não vai se arrepender!
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