Embora sempre tenha existido, o bullying só recentemente vem chamando a atenção de especialistas e sendo estudado e debatido pela sociedade. Entre as maiores razões para o aumento dessa discussão estão os impactos que ser vítima dessa prática podem acarretar durante toda a vida adulta de uma pessoa.
Neste artigo, vamos ampliar a discussão, analisando os principais pontos sobre o assunto que precisam ser estudados e acompanhados pela sociedade como um todo, seja nas escolas, ambientes de trabalho ou qualquer outro tipo de relação interpessoal para combater um mal tão comum no mundo moderno. Acompanhe!
O que é bullying?
Quando o assunto é bullying, a reação da maioria das pessoas, principalmente das gerações anteriores, é falar: “mas eu também sofri bullying e não tive nenhum problema na vida por causa disso”.
Você provavelmente já ouviu ou até falou essa frase. Mas, na verdade, esse tipo de argumento vem da desinformação sobre o que realmente é essa prática, principalmente dentro de ambientes como escolas, escritórios e até no convívio social e familiar.
Bullying não é apenas receber um apelido pejorativo ou ter uma característica sua criticada ou ridicularizada eventualmente. É algo bem ruim e que a maioria das passa passa em seu processo de crescimento e socialização ao longo da vida, mas geralmente seus efeitos são reduzidos e/ou limitados.
O verdadeiro bullying é um tipo de agressão, física ou psicológica, feita de maneira sistemática e constante contra uma pessoa. Ele pode tomar diversas formas, mas é mais comumente praticado por um indivíduo ou um grupo de um mesmo ciclo social ou profissional, como forma de intimidação e domínio dentro do mesmo.
Portanto, é importante fazer essa distinção para identificar o problema: não se trata apenas de um xingamento ou uma piada maldosa. O objetivo do agressor, consciente disso ou não, é ridicularizar e diminuir outra pessoa ao ponto que ela própria internalize aqueles ataques e se submeta.
As consequências do bullying já são profundas em adultos, como em ambientes de trabalho, mas se enraízam ainda mais nas crianças, que estão exatamente no momento de formar sua individualidade e sua autoestima.
Quais os dados de bullying no Brasil?
Até por ser uma palavra estrangeira e aparecer muito nos filmes norte-americanos, diversas pessoas têm essa ideia de bullying como algo desses países. Mas a verdade é que a prática é mais comum do que pensamos aqui mesmo no Brasil.
Em uma pesquisa divulgada recentemente pela Microsoft, o resultado foi alarmante: 43% das pessoas no Brasil afirmaram já terem se envolvido em um incidente de bullying — como agressores, agredidos ou espectadores.
Outra questão importante apontada por esse estudo é que as gerações Y e Z foram as mais afetadas, demonstrando um aumento constante na prática à medida que o tempo passa.
E isso tem tudo a ver com uma nova realidade para os brasileiros: estamos presenciando a primeira geração de crianças que nasceram conectadas e com acesso às redes sociais.
Segundo pesquisa do IBGE, 13,2% dos adolescentes, mais de um em cada dez, afirmam terem se sentido ameaçados, ridicularizados ou intimidados nessas redes. Dividindo esse número, as meninas são as mais afetadas, 16,2%, em relação a 10,2% de meninos.
Por mais que a internet seja uma ferramenta transformadora para a sociedade, ela apresenta esse lado desafiador. O excesso de exposição e a busca por likes e seguidores acaba incentivando um engajamento mais agressivo e tóxico entre usuários.
Enquanto adultos já possuem as ferramentas psicológicas para filtrar e lidar com essas interações, crianças e adolescentes ainda estão se definindo como pessoas na sociedade. A falta de informação e acompanhamento de pais e responsáveis pode tornar a prática ainda mais comum no futuro do país.
No entanto, isso não significa que o bullying esteja limitado às crianças. É uma prática cada vez mais comum também em situações de trabalho e círculos sociais entre os adultos.
O que é cyberbullying?
Assim que o termo bullying começou a ser discutido e gerar mais visibilidade em nossa sociedade, uma nova modalidade ainda mais problemática surgiu com a evolução da internet: o cyberbullying.
Esse modelo segue os mesmos padrões de agressões premeditadas, orquestradas e sistemáticas do bullying mais conhecido. A diferença principal é que ele não precisa das pessoas estarem no mesmo ambiente para acontecer.
O cyberbullying cresceu principalmente com a universalização das redes sociais. Seja em perfis de Facebook, Instagram e TikTok ou mensageiros como o Whatsapp, os ataques saem do limite de escritórios e salas de aula para acontecerem a todo momento, de diversas formas.
Xingamentos, montagens, compartilhamento de dados, textos, áudios e imagens pessoais, todas essas práticas podem ter consequências ainda mais sérias no futuro. E, como se não fosse o bastante, ainda é uma modalidade de bullying mais difícil de identificar por dois fatores:
- de um lado, a privacidade das pessoas impede que outras se deem conta dessas agressões direcionadas, que só a vítima consegue visualizar em seu computador ou celular;
- por outro, a internet ainda permite que esses ataques sejam feitos de maneira anônima, dificultando a responsabilização de agressores mesmo quando o problema é identificado.
O cyberbullying, por esses motivos, aumentou consideravelmente o desafio para a sociedade como um todo. E é por isso que a atenção para esses casos deve ser redobrada.
O que é mobbing?
Para mostrar como o bullying não é praticado apenas entre crianças e adolescentes, basta analisar outro conceito com nome em inglês que vem sendo cada vez mais discutido.
O mobbing é um nome dado para a prática de bullying em ambientes profissionais. Devido as relações internas de uma empresa, como hierarquias, competitividade e dinâmicas internas, muitas vezes o cenário é ideal para que colaboradores se tornem alvos de ações articuladas para prejudicá-los profissionalmente ou diminuir sua autoestima.
Os casos mais comuns são de assédio moral, uso de posição de poder para forçar situações constrangedoras para a vítima, intimidação e até proliferação de boatos que manchem sua imagem na empresa.
Ainda que adultos tenham mais ferramentas psicossociais para lidar com a situação, a insistência e intensidade das agressões também podem trazer sérias consequências.
Por que crianças que sofrem bullying levam traumas para a vida adulta?
O fim do tópico anterior é um gancho perfeito para falarmos sobre os impactos do bullying para a vida de uma criança. Existe relação entre as brincadeiras maldosas que sofremos e os adultos que nos tornamos?
Para se ter uma resposta clara sobre o assunto, basta que olhemos para nós mesmos. Quantas memórias você tem de interações sociais durante essa época que ainda causam um incômodo ao pensar sobre elas?
É bastante comum que o bullying deixe marcas mesmo que as pessoas não percebam. Durante uma fase de autoafirmação e construção de uma personalidade, os reforços negativos podem moldar um cérebro em desenvolvimento e criar noções de si que permanecem por toda a vida.
Muitas vezes, o bullying sistemático é internalizado e o adulto que sofreu dele na infância nem mesmo consegue fazer a conexão direta entre alguns traços de personalidade e a sua origem. É um tema muito discutido e acompanhado na psiquiatria.
Portanto, cabe aos pais, parentes, profissionais da saúde e instituições de ensino identificar e abordar eventos de bullying, para que essa autodepreciação, que é muito comumente associada a quem sofre do problema, não crie raízes para o futuro.
Quais as formas de manifestação do bullying?
O bullying pode tomar diversas formas para atingir seu objetivo: diminuir, ridicularizar e intimidar uma pessoa. Veja as manifestações mais comuns dessa agressão.
Agressão física
É comum que crianças utilizem disputas físicas como forma de testar limites sociais e de seu próprio corpo. Isso é importante até em nossas vidas adultas, canalizado na prática de exercícios para manter a saúde do corpo. Assim como esportes e competições, as brigas acabam fazendo parte desse processo.
O problema é quando isso se torna uma agressão sistemática e unilateral. Ataques constantes podem causar um impacto severo e repentino na psiquê de uma pessoa, fazendo com que ela desenvolva medos e traumas rapidamente. A gravidade da prática a torna a forma de bullying mais fácil de ser identificada.
Agressão verbal
Quase todo mundo já recebeu um apelido na escola, no trabalho ou entre os amigos. Mas e quando esses nomes e a forma como foram colocados servem para diminuir e ridicularizar uma pessoa?
O bullying de agressão verbal geralmente é praticado por um grupo que escolhe seu alvo e insiste nele. Muitas vezes é até identificável, mas a própria pessoa, com medo ou vergonha de ser excluída, age como se gostasse dos apelidos e das brincadeiras.
Exclusão física e social
O bullying de exclusão ocorre quando uma pessoa ou um grupo impede a vítima de participar de certos eventos e interações, sejam elas físicas (como não poder entrar na quadra de futebol) ou sociais (não poder conversar com colegas).
É um bullying mais sutil para que as pessoas em volta percebam porque está muito ligado às interações entre grupos mais consolidados, seja de crianças ou adultos. É um tipo de agressão que, com o tempo, torna-se capaz de criar ansiedade social e dificultar o desenvolvimento de relações interpessoais.
Isolamento
O isolamento total é uma versão ainda mais grave de bullying em relação ao item anterior. Quando acontece, a vítima é excluída por completo do convívio social dos amigos em volta — inclusive, nos dias de hoje, em grupos de redes sociais e aplicativos de mensagem.
Pode acontecer de maneira deliberada, em que os autores da prática influenciam um grupo maior a isolar a vítima, ou como consequência natural da própria retração de quem quer evitar sofrer bullying. Pode levar a impactos graves na autoestima e ao desenvolvimento de depressão.
Quais problemas o bullying pode trazer?
Para entender melhor o que são essas marcas e como o bullying pode impactar na personalidade e até mesmo na independência e na autoimagem ao longo dos anos, podemos analisar algumas consequências graves do bullying — que surgem durante a infância e podem ser carregadas até o fim da vida de uma pessoa. Confira!
Baixa autoestima
A consequência mais comum atrelada à prática de bullying é uma construção de autoimagem da vítima viciada em reforços negativos. Por internalizar esses eventos em que a pessoa é ridicularizada ou diminuída, ela própria passa a pensar menos de si própria.
Isso pode acompanhar um indivíduo pela vida inteira, tirando sua confiança na hora de procurar um emprego, se impor em situações complicadas e assumir oportunidades de liderança.
Esses impactos também podem ser físicos e associados à imagem que a pessoa faz dela mesma, como transtornos alimentares e alterações causadas por estresse.
Ansiedade social
A ansiedade social se trata de um transtorno de fobia que impede as pessoas de participarem de maneira típica em interações sociais, como visitas, festas e eventos.
Um dos maiores gatilhos da ansiedade social é o medo do julgamento de outras pessoas, do que vão achar da criança ou do adulto.
Quando o bullying é intenso e constante, há um reforço dessa ideia de que a pessoa será sempre reprimida ou ridicularizada quando interage em público, fazendo com que mente e corpo respondam de maneira negativa a qualquer momento de socialização.
Dificuldade de manter relações interpessoais
Essa ansiedade se apresenta também nas relações individuais com outras pessoas — tanto que os primeiros sinais de bullying costumam ser na mudança da relação entre criança e os pais/responsáveis, ou entre um adulto e seus amigos e parentes.
Pessoas que sofreram bullying podem desenvolver uma dificuldade maior de se abrir emocionalmente. Isso afeta a convivência com amigos, parentes e relações afetivas.
Agressividade
Como o bullying muitas vezes passa por agressões físicas e verbais, é possível que a pessoa que esteja sofrendo crie mecanismos agressivos para lidar com o problema. Isso é principalmente observado entre as crianças, afinal, estamos falando de seres humanos em formação, que ainda não conseguem entender 100% pelo que estão passando.
Por isso, não é raro que jovens que sofrem bullying se tornem adultos mais agressivos em suas relações com o mundo e as pessoas. Um problema que pode, inclusive, trazer consequências à saúde ao longo dos anos.
Depressão
A depressão é uma doença séria que vai muito além do que a gente chama de tristeza ou timidez. É um transtorno de origem genética e ambiental que pode ser reforçado pelo bullying.
A doença geralmente se manifesta por um desinteresse geral e falta de motivação para diversas atividades, além de sentimentos de medo e insegurança generalizados — sintomas que podem ser levados para boa parte da vida.
Culpa
Às vezes é difícil para nós adultos perdoar quem comete o bullying, principalmente se direcionado a nossas crianças. Porém, diferente de alguém que tem consciência e morais formados, nem sempre podemos jogar na criança toda a responsabilidade por esse ato.
É por isso que existe também uma consequência importante para quem pratica o bullying durante a infância, geralmente em idades menores.
Essas pessoas podem crescer com o sentimento de culpa por algo que faziam com outros, muitas vezes sem saber exatamente por que agiam assim. Nesses casos, quem ataca também pode sofrer no futuro problemas de autoestima, ansiedade e depressão.
Como identificar?
O maior desafio de combater o bullying é que ele é muitas vezes invisível para quem está em volta da vítima. Ainda mais com o aumento de casos de cyberbullying.
Além disso, outro obstáculo é que a própria vítima se sente acuada e com medo de denunciar, fazendo com que a prática se estenda por longos períodos de tempo.
Por isso, é fundamental conseguir identificar o quanto antes o problema para fazer algo a respeito. Veja alguns sinais que a criança pode dar que apontam para uma possível prática de bullying:
- mudanças drásticas de comportamento;
- súbita dificuldade de aprendizagem;
- apatia;
- agressividade excessiva com pais, irmãos e outras pessoas próximas;
- não se interessar por eventos escolares ou profissionais;
- ansiedade exacerbada antes de ir para a escola ou no caminho para o trabalho;
- alterações de sono;
- alterações de apetite;
- dificuldade para falar sobre seu dia.
Esses são os sinais mais claros que pais, parentes, amigos e profissionais podem reparar. Geralmente, mudanças de personalidade e humor são comuns no nosso desenvolvimento como seres humanos. Mas, se isso acontece de maneira rápida e brusca, é importante ligar o sinal de alerta.
Como agir caso ele aconteça na infância e adolescência?
Por mais que queiramos proteger nossas crianças, é preciso deixar que elas criem suas próprias interações sociais para se tornarem adultos independentes. Infelizmente, é também um momento em que essas práticas surgem com mais frequência e é possível as blindar completamente do risco de bullying. Portanto, veja o que fazer para garantir que isso não se torne um problema o mais rápido possível.
Monitore os sinais
Como mostramos no último tópico, as crianças costumam dar sinais de que o bullying está acontecendo mesmo em seu começo. Por isso é importante ficar de olho nessas mudanças de comportamento para agir assim que possível, minimizando as marcas que ele deixa na autoestima.
Converse com a criança
É muito importante que pais e responsáveis mantenham um canal aberto de comunicação com suas crianças desde pequenas. É preciso que elas sintam de você um suporte sem julgamentos e culpabilidade, para que possam se abrir sem medo.
Criar esse hábito de conversa facilita na hora de elas articularem o que estão sentindo e pelo que estão passando. Quanto mais rápido uma criança admite ser vítima de bullying, mais fácil fica agir.
Peça ajuda da escola
Não tem como fugir, a escola tem um papel fundamental no monitoramento, na identificação e na forma de resolver questões de bullying entre crianças.
Mesmo que boa parte desse abuso ocorra hoje na internet, fora do ambiente escolar, as instituições que investem em educação humanizada compreendem melhor a individualidade de cada aluno e as relações entre esses grupos que se formam durante a infância.
Com uma dinâmica maior de desenvolvimento de habilidades criativas e sociais, é possível prevenir o bullying ou, caso aconteça, entender e tratar o problema direto em sua origem.
Portanto, escolher uma boa escola para suas crianças e a relação próxima com seus profissionais é crucial para garantir um bom desenvolvimento para seu futuro.
O bullying é um problema sério e que pode afetar a vida de milhões de pessoas pelo mundo. Mas com atenção, cuidado e carinho, é possível impedir que isso aconteça e minimizar seus impactos na vida das crianças.
Gostou dessa nossa conversa e de saber mais sobre assuntos importantes para a formação infantil? Então aproveite e assine a nossa newsletter e receba artigos como este diretamente no seu e-mail!